terça-feira, 5 de novembro de 2013

Software de Qualidade mais que Software Funcionando

Em 2011, quando Fortaleza sediou o Agile Brazil, os participantes do evento tiveram a oportunidade de assistir a um Keynote entitulado: "Liderança adaptável: acelerando a agilidade organizacional".  Durante os dias do evento, pude conhecer um pouco mais sobre Jim Highsmith, o preletor desta palestra e um dos autores do Manifesto Ágil. Em uma das conversas com ele, uma frase ficou gravada na minha mente: "Qualidade é Pessoal."

Na verdade, eu já havia escutado esta frase várias vezes, mas nunca da boca de Jim Highsmith.  Ele falara de forma tão precisa e profunda, que acreditei haver algum material de sua autoria na internet falando do assunto.  Encontrei um artigo dele chamado When Quality is Personal.  Também encontrei um outro artigo entitulado Quality is Personal, escrito por Israel Gat. Indico a leitura dos dois.

Comecei a ver o conceito Qualidade de forma diferente. Anteriormente, software funcionando mais que documentação abrangente, já me dizia tudo. O tempo e a experiência me fizeram perceber que não há como definir qualidade de software, tendo em mãos, "apenas" um Software Funcionando.   Segundo o dicionário,  "Qualidade é um atributo, condição natural, propriedade pela qual algo ou alguém se individualiza, distinguindo-se dos demais; maneira de ser, essência, natureza..." 

Entretanto, no desenvolvimento de software, conseguimos encontrar um outro conceito para a palavra qualidade: 

"Experiência agradável (ou desagradável) pela qual passa um usuário ao utilizar um programa de computador"

Atualmente, há uma tendência em valorizar empresas que investem grandes volumes de recursos financeiros em qualidade de processos, desenvolvimento de pessoas e melhoria no ambiente de trabalho. Mas "apenas isso" não é suficiente para criar um produto de qualidade.  

Por exemplo:
O Brasil é, hoje, um dos maiores produtores e consumidores de café do planeta. Em uma recente pesquisa feita pela ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café), foi constatado que um brasileiro chega a consumir 83 litros de café por ano. É muito café! Acredito que eu tenha uma parcela de contribuição nesta estatística.

O resultado dessa pesquisa não é surpresa. Durante anos, os produtores de café fizeram grandes investimentos na lavoura, na industrialização do café e na logística de entrega. Grandes quantias em dinheiro são gastas, anualmente, para alcançar elevados níveis de qualidade nos processos de fabricação.

Mas o que isso nos interessa?  Simples.  Eu gosto de café, mas detesto café forte. Não adianta o melhor processo de produção, guiado pelos mais conceituados profissionais do planeja... se eles me entregarem uma xícara de café forte... vou fazer careta! 

"A boa qualidade de um produto não depende do processo de fabricação ou da competência técnica dos profissionais envolvidos, mas da experiência agradável vivenciada pelo consumidor. "

Equipes de desenvolvimento de software que realmente buscam a qualidade, estão preocupadas com a Experiência do Usuário com o produto. O processo de "industrialização" do software é secundário.

Essa é a razão pela qual muitos dos nossos colegas falam em User eXperience (UX). Um trecho de uma entrevista feita a Steve Jobs, em um artigo de 2003 entitulado "The Guts of a New Machine" ("As entranhas de uma nova máquina") publicado no The New York Times por Rob Walker, já resumia o que hoje chamamos de UX :

...
 ''Most people make the mistake of thinking design is what it looks like,'' says Steve Jobs, Apple's C.E.O. ''People think it's this veneer -- that the designers are handed this box and told, 'Make it look good!' That's not what we think design is. It's not just what it looks like and feels like. Design is how it works.''
...


O foco deste post não é falar sobre UX.  Irei escrever um outro artigo sobre isso futuramente.  No entanto, para quem interessar, sugiro o material WHAT IS UX DESIGN? por Ross Popoff-Walker.

Finalizo este post com a simples conclusão de que não adianta falar de qualidade sem proporcionar aos usuários/clientes a experiência de usar nosso software. 




2 comentários:

SSalles disse...

Oi Paulo, ótimo artigo.

Se pensarmos bem, este vem totalmente de encontro com seu último post "Como dizer ao cliente que ele é importante?"...
Se observarmos as "bases" das normas ISO, qualidade é simplesmente a satisfação do cliente.
Sendo assim, ele é quem define os requisitos de qualidade e, o sucesso está em compreender exatamente estes requisitos.
Creio que o termo "Product Owner" poderia ser trocado por "Product Father" pois, não basta ser o "dono" mas sim, ter aquela consideração e "Amor" para que o "filho" (produto) cresça, se desenvolva e brilhe... Afinal, esta é a qualidade que todos querem.

Grato,
Sérgio Salles

quaresma disse...

Qualidade é algo espiritual semelhante a capacidade de amar um desconhecido. Amar quem vai usar, quem vai instalar, quem vai dar suporte, quem vai manter e a si mesmo que faz software. Fazer bem feito é uma questão de caridade. :)